1ª Etapa
Vila Real – Lamego
Distância/Tempo (aprox.)
38 km´s em 10h
O início não foi “pera doce”, todos nós estranhamos o material, mais parecíamos o caracol com a casa às costas.
Iniciámos o percurso em minha casa, junto ao Restaurante Chaxoila, descemos até ao centro da cidade de Vila Real, pela avenida do RI13, boxes, centro histórico, avenida Carvalho Araújo e seguimos direcção ao Porto pela antiga estrada.
Após passarmos sobre a ponde sobre o rio Cabril, em Almodena, iniciou-se o primeiro obstáculo, a subida até Parada de Cunhos. Esta foi a primeira prova de resistência.
O Caminho seguiu direção à Cumieira. Junto ao cruzamento de Relvas, abandonamos o Caminho de Santiago, este seguia por baixo, por estradas municipais. Nós optámos pela Estrada Nacional 2. Na Cumieira realizámos a paragem para o café e também para descansar um pouco.
O traçado utilizado pelo Caminho de Santiago, descia junto às vinhas, em caminhos de terra batida. O que nos fez não optar por ele, foi mesmo o tipo de piso e o desnível, desaconselhado para quem tem uma mochila com alguns quilos e muitos quilómetros para andar.
A paisagem, entre estas duas povoações, é pautada por vinhas, oliveiras e quintas de uma beleza ímpar, envolvidas por pequenos muros de xisto.
Sempre que podíamos, fazíamos umas pequenas pausas para observar o que nos rodeava e usufruir da “fresca” de uma sombra, pois o sol era cada vez mais intenso.
Após passarmos S.ta Marta de Penaguião, resolvemos seguir em direcção a Godim, isto porque, esta via de circulação tinha menos trânsito.
Junto às valetas da estrada, existiam alguns frutos apetecíveis, os quais provamos. Estou a falar-vos de amoras silvestres, pêssegos e ameixas.
Pela hora de almoço, passamos junto ao Continente, à escola do Rodo e lá chegámos à Régua, onde fizemos a segunda paragem, esta para almoçarmos. Foi na margem direita do Rio Douro, junto ao cais fluvial. Esta refeição pautou-se por umas pataniscas de bacalhau que trazíamos de Vila Real e frutas que fomos apanhando pelo caminho.
Por aqui permanecemos cerca de uma hora, enquanto a comida nos satisfazia as necessidades fisiológicas básicas, a paisagem alimentava-nos a alma.
Antes de sair, houve tempo para um café e abastecimento de água, mesmo junto à antiga ponte do combóio, percurso também referenciado no Caminho de Santiago.
O que nos esperava não era fácil e o calor apertava.
O segundo obstáculo aproximava-se, após algumas centenas de metros, a inclinação da estrada assustava-nos, sabíamos que tínhamos pela frente mais de oito quilómetros muito difíceis.
A parte mais intensa foi mesmo a seguir a Cambres.
Quando terminamos a subida, os músculos estavam saturados e nós muito massacrados e até um pouco desanimados, como é norma após uma grade e difícil etapa que rondou os 40 km´s.
Durante todo o dia, realizei diversos contactos no sentido de arranjar alojamento para esta noite. O objectivo era ficarmos no Albergue de Penude, mas não obtivemos qualquer resposta o que nos deixou ainda mais desanimados. Mesmo assim ainda passamos na PSP local para saber se Lamego tinha algum alojamento destinado a Peregrinos. O único local que nos indicaram foi uma residencial, a da D.ª Zita. Mas o nosso objectivo não era alojarmo-nos hotéis e residenciais, pois vinha desvirtualizar o sentido da peregrinação.
A Elda resolveu telefonar à sua irmã mais velha que reside em Tarouca, localidade que dista 8 km´s de Lamego. Sabendo que não tínhamos local onde pernoitar, prontamente nos vieram buscar e nos deram guarida.
Como sabe bem um banho, comida quente, boa companhia em família e uma bela noite de sono após um dia longo e difícil como este!
Quando chegámos verificámos umas quantas mazelas nos pés…bolhas não faltavam, principalmente nos meus pés e nos da Elda. Já quanto às dores musculares eram uniformemente divididas pelos três.
No dia seguinte, voltaram a trazer-nos a Lamego para iniciarmos a 2ª Etapa.
Nota: A opçãp por Cambres, da Régua para Lamego, apesar de poupar cerca de 3 km´s não se tornou viável porque o desgaste físico foi muito elevado.
2ª Etapa
Lamego – Termas do Carvalhal (Castro Daire)
Distância/Tempo (aprox.)
Já passava das 8 horas quando nos pusemos a caminho, esperava-nos uma subida de 6 km´s. Passamos junto à escadaria da S.ª dos Remédios, às Caves da Raposeira e só antes de chegar a Penude é que o percurso começou a ficar plano.
A primeira paragem da jornada foi em Sucres para uns pequenos curativos, mas foi muito breve. Só quando chegámos a Bigorne é que paramos para restabelecer energias, já era hora de almoço e já tínhamos percorrido mais de 20km´s. Foi no café Giesta (também rota do Caminho de Santigo) que bebemos uns sumos e comemos uns salgados. Neste local encontrámos uma proprietária muito prestável, isto porque entretanto começou a chover e as nossas mochilas não vinham preparadas para intempéries. A senhora prestavelmente cedeu-nos sacos de plástico para minimizar os efeitos da água, mesmo sem nós pedirmos o que quer que seja. Além dos sacos arranjou-me também um guarda-chuva “XL”, que apesar de usado serviria muito bem de protecção.
Como estava referenciado pela meteorologia, só havia possibilidade de pequenos aguaceiros no final do dia, estes surpreenderam-nos, mas foi por pouco tempo, alguns minutos depois as nuvens afastaram-se e o sol imperou.
Com pouco mais de algumas centenas de metros andadas, ainda a comentar a prontidão e simpatia da senhora do café, tivemos que fazer uma pausa para colocar uma protecção no polegar do pé direito da Elda, em pleno parque de estacionamento de um restaurante.
Só tivemos tempo para descalçar a sapatilha e tirar a meia, quando ouvíamos uma voz a dizer: “venham até aqui comer e beber qualquer coisa”. Inicialmente nem prestámos grande atenção, mas a insistência foi grande, uma senhora desceu até nós e quase nos obrigou, simpaticamente, a juntarmo-nos ao repasto.
Estavam por lá umas cem pessoas, uns na parte interior do restaurante mas a maior parte encontrava-se junto ao grelhador, local onde “pairava” um belo porco no espeto, bem apetitoso à primeira vista.
A D.ª Paula, dona do Restaurante, colocou-nos de imediato uns copos de vinho na mão e disse-nos que o pão e os guardanapos se encontravam por baixo da mesa.
Rapidamente surgiu uma panela onde se encontravam belas fatias do tal porco prontinhas a colocar dentro do pão.
Convivemos por lá uma boa meia hora em conversa com algumas das pessoas presentes mas, sem nunca a Dª Paula nos perder de vista como boa anfitriã, sempre pronta a nos satisfazer com pão vinho e porco.
Mas estava a fazer-se tarde e nós ainda tínhamos uma bela estirada pela frente. Quando mostramos esse desejo, prontamente ela nos indicou o local onde estavam as sobremesas e a máquina do café. Podíamo-nos servir à vontade, este era aquele dia em que, por cortesia da casa, tudo era oferecido, só tínhamos mesmo é de nos servir.
Este evento já se realizava a alguns anos nesta data e era destinado a todos os clientes e amigos do Restaurante A24.
Despedimo-nos e seguimos viagem. Cerca de meia hora depois já tínhamos os meus pais a para junto de nós. Na verdade, não surgiram em má altura, isto porque as mochilas já pesavam nos ombros.
Depois de nos livrarmos delas continuamos o nosso caminho, sabendo à partida que o jantar já era garantido. Ainda faltavam quase 20 km´s para a refeição, por isso impusemos o ritmo já a pensar no “rancho” que nos esperava nas Termas do Carvalhal.
O que mais custou, para além das rectas do Mezio que pareciam não ter fim, foi mesmo a descida da Calçada Romana de Castro Daire até à Ponte Pedrinha.
Na margem esquerda do Rio Paiva encontrava-se o meu pai de máquina fotográfica em punho para nos captar no momento.
Os 3000 metros que se seguiram foram não foram muito fáceis, mas mantivemos sempre um bom ritmo de marcha, só possível pela ausência das mochilas.
O cansaço já era muito, o ritmo era elevado mesmo após a subida, nas rectas infindáveis que distavam das Termas do Carvalhal.
Finalmente chegamos, o meu pai ainda fez as últimas centenas de metros connosco desde este momento em que nos captou.
Não estava fácil para os pés e músculos das pernas, tudo estava perro e muito dorido. As pernas já não queriam andar e os pés mais pareciam que tinham caminhado sobre pedras em brasa.
Mal chegámos, fizemos a inscrição no Camping. A responsável ao ver-nos tão cansados perguntou se não queríamos, em vez de montar a tenda, pernoitar nas antigas instalações do bar que neste momento se encontravam desactivadas. Nós nem pensámos duas vezes, vontade de montar a tenda, não tínhamos nenhuma e, aceitámos no momento.
Foi neste local que viemos a pernoitar e também onde deliciámos o belo e substancial “Rancho” que nos esperava, em convívio com os promotores desta nutritiva e energética iniciativa.Na realidade não sabemos se foi a melhor opção, já que as colchonetas no chão não se tornaram muito confortáveis, a caruma seria um nadinha mais fofa e evitaríamos o som contínuo e torturador das gotas de água de uma torneira avariada que fez com que, alguns de nós tivessem que contar carneirinhos para adormecer.
3ª Etapa
Termas do Carvalhal – Tondela (acabamos por ficar em Igarei_Viseu)
Distância/Tempo (aprox.)
33 km´s em 8h30h
Esta 3ª etapa começou pelas 7h45m, um pouco mais tarde do que seria conveniente, mas o culpado fui mesmo eu, estava especialmente com uma monumental preguiça acompanhada com umas quantas dores musculares. É certo que fui chamado à atenção por parte das minhas companheiras de peregrinação, elas quase me crucificaram. O que se veio a reflectir na dificuldade que tivemos em terminar esta longa e cruel jornada.
No dia anterior, aquando do carimbar da credencial no Centro Social, aproveitei para além de comprar o pequeno-almoço, satisfazer algumas dúvidas sobre o percurso desta etapa. Este seria o mais complicado, pois levar-nos-ia por caminhos longe da Nacional 2.
Inicialmente, o objectivo final era Tondela, sabia à partida que não iria ser nada fácil pois esta etapa era a mais longa de todas, aproximava-se perigosamente dos 50 km´s.
Ao afastar-nos da estrada principal, correríamos o risco de nos perder, apesar de levar-nos um mapa detalhado de todos os locais por onde deveríamos passar, mas também tínhamos como vantagem uma maior segurança e a ausência de poluição das movimentadas vias de comunicação.
Os primeiros quilómetros circulámos paralelamente à Nacional 2, entre terra e alcatrão, até chegarmos à rotunda em que seguimos a direcção de S. Pedro do Sul, na povoação de Arcas (na EN2). Andamos cerca de 2 km´s até Pindelo dos Milagres, mas ainda houve tempo para descansar um pouco e encher as garrafas num fontanário que se encontrava algumas centenas de metros antes.
Nesta aldeia tivemos a oportunidade de adquirir pomadas e balsamos para minimizar as dores que já se faziam sentir.
O farmacêutico, senhor na casa dos 40 anos e deslocado de Aguiar da Beira, era de uma simpatia especial, detentor de um humor requintado. É que a Elda queria mesmo uma injecção para as dores, mas não teve direito a ela. Ele lá conseguiu dar-lhe a volta com o sorriso nos lábios, com um spray e um bálsamo.
No final convidou-nos para ir com ele ao bar central, local onde nos ofereceu o café. Ao mesmo tempo, com a ajuda de um bombeiro, orientou-nos numa direcção em que faríamos um menor número de km´s.
A Elda, apesar de gostar muito das suas sapatilhas vermelhas, as quais já tinhas feito o Caminho Inglês para Santiago, gosta ainda mais dos seus dedos dos pés. Pediu-me para abrir um buraco em cada uma delas no seguimento dos polegares. Passaram a ser ventiladas!
No final fomos prevenidos do grau de dificuldade de uma das partes do percurso. Pouco tempo depois despedimo-nos e retomamos o caminho.
Ao longe avistava-se já os tubos de água ascendentes e descendentes de uma hidro central eléctrica o que me fez imaginar que a informação que tínhamos recebido anteriormente cada vez mais fazia sentido.
A descida e principalmente a subsequente subida ao Rio Vouga deixou-nos sem palavras, sem ar e muito cansados. A parte mais interessante deste local era mesmo uma praia fluvial que existia a jusante da ponte, pena é que o lençol de água se encontrava estagnado e aparentemente turvo, caso contrário daria uma pausa para um possível banho.
Após 45 min de uma subida infernal em serpentina, lá chegámos a Ribafeita. Claro que necessitámos de nos recompor do esforço agravado pelo calor que se fazia sentir, cada uma à sua maneira, uns sentando-se e outros caminhando lentamente. O prioritário era mesmo encontrar uma fonte de água para nos refrescar e abastecer.
Pouco tempo depois tivemos que fazer uma pausa para nos alimentar. Enquanto a Elda e a Magui ficaram a relaxar um pouco encostadas a um muro e à sombra de uma árvore, eu dirigi-me a uma bomba de gasolina próxima para arranjar algo que não fosse barrinhas de cereais, e ao mesmo tempo fazer algumas questões sobre a direcção a tomar. As opiniões foram diversas o que me fez baralhar mais do que eu já estava no momento. Enquanto uns diziam que era melhor ir até Viseu, outros orientavam-me por Mocamedes. Na realidade, mais tarde verifiquei que nenhuma das informações era a mais correta.
Em relação à comida, foi mesmo a parte mais positiva, a senhora que se encontrava no bar da bomba de gasolina fez umas sandes mistas à antiga, com queijo e fiambre cortados à faca. O queijo era amanteigado e muito saboroso. Elas estavam soberbas, não sei se seria da fome que já trazíamos ou pelo facto de enjoar as barras de cereais que nos acompanhavam como reserva e mais valia em situações de ausência de outra fonte de alimento.
De tal forma estavam boas que optámos por adquirir mais uma, para cada um, para o caminho.
Na realidade, penso que foi neste momento que nos afastámos um pouco da rota indicada.
Mas lá seguimos o trajeto que pensávamos ser o mais correto. Um pouco mais à frente encontrámos uma outra farmácia para nos abastecer de adesivo, algo muito útil para prevenir as bolhas nos pés.
O sol estava cada vez mais intenso, não corria vento algum e estava a custar-nos bastante caminhar mas tínhamos de continuar pois já se fazia tarde.
Fomos dar à Nacional 336 e seguimos a direcção de S. Pedro do Sul por uns 2 km´s, local onde encontrámos o entroncamento para Mocamedes.
Certamente se escolhêssemos por seguir direcção a Viseu e na primeira possibilidade virássemos à direita, não faríamos desnecessariamente tantos km´s. Mas como somos responsáveis pelos nossos atos, lá fomos nós para mais uma descida e consequente subida, numa estrada sinuosa e com pouca sombra que nos levou até Mocamedes.
Quando chegámos ao culminar da subida, deparámo-nos com uma igreja imponente, com uma torre de vários sinos, à entrada de uma singela povoação. Certamente, em tempos, esta aldeia seria bem mais populosa.
Mesmo ali perto, do outro lado da estada, encontrava-se uma esplanada com uma sombra tentadora, onde bebemos um refrigerante.
A jornada já ia longa, a direcção ligeiramente afastada do que seria conveniente, o ânimo estava pela “hora da amargura”, nem a fé nem a força de vontade parecia mais existir. Pior foi mesmo quando nos informaram que ainda distavam cerca de 30 km´s para o destino. A informação que tínhamos recebido era por estrada principal, certamente pelas secundárias a distância encurtava substancialmente.
Não tenho a noção, neste momento, do que andámos, possivelmente já havíamos caminhado uns 25km´s que pareciam bem mais, devido à dificuldade natural causada pelo relevo.
Neste momento o que nos apetecia era mesmo parar, e não foi por falta de oportunidade, pois os proprietários tinham acabado de me oferecer alojamento numa das suas casas. Ocultei-lhes esta informação, pois com o ânimo em baixo o mais certo é que aceitassem no momento esta gentil oferta. Mas ainda nos faltava muito, e tudo o que andássemos, a partir deste momento, seria útil para as etapas que se seguiam.
Com muito esforço lá fomos nós, meios cabisbaixos e com pouca vontade de dialogar uns com os outros. Em condições normais, por esta hora (15h) já teríamos andado uns 35 km´s, mas com tantas paragens, com as duas respeitáveis subidas e com um pequeno erro no trajeto, a jornada não estava a render.
Optámos por, em vez de seguir direcção a Tondela, irmos até Viseu e, no dia seguinte, retomarmos no ponto em que estávamos, ou seja em Itarei.
Neste local soubemos que, uma hora depois, passaria um transporte público que nos levaria à cidade. Já eram quase 18h, mesmo assim tentei mais um telefonema para o albergue de Farminhão, recém inaugurado do Caminho de Santiago mas, não obtive resposta. O dia estava mesmo a correr mal.
Estivemos aproximadamente uma meia hora sentados à porta do café, junto à estrada à espera que passasse o nosso transporte.
Os ânimos estavam um pouco exaltados, pela longa jornada, mas em momentos como estes surge-nos sempre uma “golfada” de ar fresco, uma “alma” caridosa. Estou a falar-vos do Sr Domingos, homem das redondezas que rapidamente, ao ver-nos no estado em que estava-mos, nos tentou confortar-nos com as suas palavras, para as quais não obtinha grandes respostas. Resolveu oferecer-nos e servir-nos à mesa, uma bebida para cada um… ainda há boa gente por este Portugal isolado!.
Apanhamos um mini autocarro em que o condutor fez tudo o que podia para nos ajudar, inclusive tentar saber, por telemóvel, os horários dos transportes para retomarmos o ponto no qual tínhamos terminado a etapa. À chegada, ainda foi saber informações à central para nos satisfazer as nossas dúvidas.
Quando chegámos a Viseu deparamo-nos com mais um obstáculo, não tínhamos nada marcado para pernoitar e lá fomos nós em busca disso. A tentação para desistir era grande, mas tentámos fazer o que estava ao nosso alcance para afastar essa ideia das nossas mentes cansadas.
Dirigi-me a um agente da PSP, na praça principal junto à Câmara, para saber locais onde os peregrinos costumam ser acolhidos, ele muito prontamente tentou saber junto de colegas, por telemóvel e sugeriu-nos a “CARITAS” (instituição de cariz católico que tem como valores, entre outros: a Caridade através da Ajuda, Amor ao Próximo e da Partilha e a Ética pelo Respeito ao Outro e ao Ambiente – informação extraída do site oficial www.caritas.pt/viseu ).
Lá fomos nós, seguindo as indicações do Agente da PSP, bater à porta. O edifício localiza-se no centro histórico, junto à Sé, na parte alta da cidade.
Toquei na campainha do intercomunicador e atendeu-me um senhor, questionei-o sobre a possibilidade de nos deixar pernoitar no interior das instalações. Ele era um funcionário e não nos conseguiu dar de imediato resposta, referiu que iria contactar a doutora responsável. Uns minutos mais tarde, ainda através do intercomunicador, disse-nos que não tinha vagas, estavam com a lotação máxima.
Não percebi bem a resposta, certamente fomos “despachados” pela D.ra, a qual seguramente nunca realizou uma peregrinação, caso contrário, ajudar-nos-ia. Nós não queríamos nenhum quarto, tampouco uma cama, bastava-nos um espaço protegido e acesso a um wc.
A falta de sensibilidade demonstrada não abona nada para uma instituição como a CARITAS, é que nem se dignaram a vir falar connosco pessoalmente.
Desanimados e cansados, ainda sem local para dormir, retomamos ao Agente da PSP e dissemos-lhe o que se tinha passado. Ele também não compreendeu a atitude dos funcionários daquela instituição, demonstrando-o verbalmente e encolhendo os ombros num gesto que entendi como de “pena” para connosco.
Disse-nos então para nos dirigirmos ao Seminário e lá perguntássemos se nos davam guarida, informando-nos o caminho mais próximo para chegar.
Tocámos à campainha por diversas vezes, mas sem efeito, sentíamo-nos insignificantes e invisíveis. Optámos por uma outra porta traseira, mas obtivemos a mesma resposta, ou seja, nenhuma.
Pusemos em causa o espírito de missão, solidariedade e de partilha deste tipo de instituições, que deveriam estar vocacionadas para ajudar o próximo. Entretanto, por espanto nosso, passaram, mesmo à nossa frente, um grupo de seminaristas devidamente acompanhados por responsáveis, possivelmente sacerdotes deste mesmo seminário, ficámos sem palavras. Afinal havia gente, realmente, no interior do edifício. Sentimo-nos tristes.
Surgiu a oportunidade de ficar numa casa de um amigo nos arredores de Viseu, soubemos isto, por telemóvel, através da Celma, irmã da Magui e da Elda.
Nós não queríamos dar trabalho a ninguém, só queríamos descansar um pouco para nos revitalizar para a jornada do dia seguinte.
O Irmão desse nosso amigo veio ter connosco, levou-nos e alojou-nos.
Tanto o nosso amigo como o irmão fizeram tudo o que estava ao alcance deles para nos confortar e conseguiram mesmo. Um obrigado para eles.
No dia seguinte, ficou de nos apanhar e nos levar para próximo do local onde tínhamos terminado no dia anterior.
4ª Etapa
Figueiró (Vil de Soito_Viseu) – Tondela
Distância/Tempo (aprox.)
25 km´s em 6h
Eram 7h da manha e já estávamos em Figueiró prontos a iniciar a jornada.
A temperatura ainda não estava muito agradável para caminhar, pela frente tínhamos uma etapa de aproximadamente 30 km´s até Tondela.
Iniciámos no antigo apeadeiro, actualmente adaptado como bar, o sol ainda não aquecia, os músculos estavam frios, os pés doridos mas, passo a passo lá fomos nós.
Quanto a mim, estava a custar-me apanhar o ritmo, fiquei para trás um pouco e lentamente fui-me aproximando delas.
A Elda reflectia no seu rosto alguma dor e cansaço, por vezes aconchegava a sua anca direita, pronúncio de uma lesão muscular que se veio a verificar 20 km´s mais tarde.
Após 11 km´s andados, em plena Ecovia do Dão, chegámos a Farminhão, mas antes passamos por uma antiga ponte férrea magistral, com mais de 60 metros de altura.
Posteriormente constatei que se tratava de mais uma construção de Eifell. O famoso responsável por a Ponde D. Luís no Porto, da Torre com o seu nome em Paris e, muitas outras obras de referência por esse mundo fora.
Farminhão foi o local escolhido para o café matinal. Enquanto eu e a Magui optámos por nos afastar cerca de 500 metros da rota, a Elda esperou por nós junto à Ecovia.
Uns quantos minutos passados e lá encontrámos a merecida esplanada. Aproveitámos também para fazer uma incursão aos wc´s.
Estávamos nós de chícara na mão quando entrou uma senhora toda atarefada, que pelos vistos ou era filha ou nora da proprietária, com a qual conversámos um pouco.
A Iracema já tinha feito uma peregrinação a Fátima recentemente, e transmitiu-nos algumas dicas do percurso que ela tinha realizado, o qual tinha passado por Vila Nova de Poiares, uma outra versão que já tínhamos também ouvido falar.
Este diálogo perlongou-se por algum tempo, não muito, pois ela aparentava ter pressa. Trabalhava em Tondela numa farmácia e ao ver-nos com uma mochila às costas, rapidamente se voluntariou para nos transportar as mesmas até localidade onde laborava, que coincidia com o nosso fim de jornada.
Claro que aceitámos, o percurso tornar-se-ia muito mais fácil sem peso às costas. Introduzimos o nosso material na mala da carrinha e lá fomos nós ter com a Elda, à boleia.
A Iracema colocou a mochila que faltava junto às outras e combinámos o sítio onde as poderíamos levantar. Iria ser nas Mármores da Estação, à entrada de Tondela que coincidia com o trajeto que tínhamos delimitado. Era uma empresa dos pais de uma colega de trabalho da Iracema.
Despedimo-nos e lá continuámos caminho. Com o passar do tempo, as dores da Elda foram-se intensificando, por diversas vezes fizemos paragens para colocar o tal spray aconselhado pelo farmacêutico que tínhamos conhecido na jornada do dia anterior, que muita ajuda nos deu para ultrapassar as diferentes dores que íamos sentindo.
Após termos caminhado cerca de 3 horas, parámos junto de uma igreja cuja fachada era bem antiga, possivelmente da época romana. Junto a ela encontravam-se uns pequenos bancos de pedra. Aproveitámos para recuperar energias e tratar das mazelas.
Foi neste local, após arrefecermos um pouco muscularmente, que se agudizou o estado da Elda. As dores já eram muitas, a dificuldade em locomover-se fazia-se sentir. Tivemos que reduzir o ritmo a tal ponto que umas centenas de metros à frente, a Magui teve mesmo que a ajudar a andar, colocando-lhe o braço no dela.
Como na maior parte do percurso, não havia fontes nem outro tipo de abastecimento de água e, como elas iam de tal forma lentas, eu ao passar junto de uma pequena aldeia, resolvi afastar-me da rota para nos abastecer. A primeira tentativa foi em vão, pois a casa não tinha água canalizada mas, amavelmente, encaminharam-me para uma outra. Bati à janela e surgiu-me uma senhora que prontamente encheu as duas garrafas que levava.
Retomei o caminho e, lá iam elas, ainda bem perto. A Elda com um andar muito sofrido, a cambalear. Nem a ajuda do bastão adaptado que lhe encontrei ainda antes de passar a Régua, nem o apoio da Magui, surtia efeito.
Pouco tempo depois, a situação piorou, praticamente já não conseguia andar, queria desistir e vir embora. Nós tentámo-la animar, mas a nossa boa vontade estava a tornar-se inglória, penso que ela já nem nos ouvia. Como a compreendo! As dores eram muitas…e os km´s que faltavam mais pareciam infindáveis.
Chegou a um ponto que parou mesmo, as dores sentidas eram insuperáveis, foi a opção mais sensata. Estava incapaz de se movimentar autonomamente e muito desanimada.
Resolvemos pedir apoio, optámos por ligar para o 112.
Saí da Ecovia, dirigi-me para a Nacional 2, que se encontrava bastante próxima, para me localizar e liguei. Após aquelas perguntas que o operador do INEM me fez para saber o estado da Elda e o local onde nos encontrávamos, apenas demoraram 13 minutos a chegar.
Referi que se encontrava consciente apesar de animicamente débil, apenas impossibilitada de continuar a Peregrinação.
Quando chegaram analisaram o estado em que ela se encontrava, o qual, aparentemente, ficou mais grave pois o enfermeiro, ao mesmo tempo que verificava a situação da anca com a mão direita, com a outra apertava-lhe o polegar do pé perguntando: - Está a doer-lhe?
Claro que estava! A unha estava prestes a sair!!
Nem perdeu mais tempo, com as dores que ele lhe provocou no pé, ela já nem disse mais nada. Pensou ele que as dores eram oriundas da anca.
Ele preocupado que fosse algo mais grave, imobilizou-lhe a perna pensando que poderia ser uma fratura.
Ela foi colocada numa prancha de imobilização e posteriormente na maca. A Magui seguiu com ela na ambulância e eu continuei a caminhar até Tondela.
O objectivo final de hoje estava mais próximo do que se esperava. Só necessitei duns 30 minutos para chegar até ao local onde tínhamos combinado para apanhar as mochilas.
A empresa tinha as chaves nas portas, estava tudo aberto, mas não estava lá ninguém, era hora de almoço.
Aproveitei para saber como é que estava a Elda e a informar a Magui que já tinha chegado. Disse-me que só estavam à espera do resultado do Raio X, mas que aparentemente estava tudo bem.
Enquanto esperava por alguém para me entregar o nosso material, adormeci encostado a uma das pedras que se encontravam junto à entrada principal. Fui acordado pelo trabalhar de uma mota que estacionou do outro lado da via pública, veiculo utilizado pela proprietária, pouco passava das 14h. Ela disse-me que poderia ter levado as nossas coisas, que escusava de ter esperado. Claro que não era ético da minha parte fazer isso na ausência deles.
Logo de seguida apareceu o marido numa carrinha de caixa aberta. Eu perguntei se sabia do número de telefone de um táxi para ir ter com elas ao hospital. Acabou por não ser necessário, a senhora disponibilizou-se logo para me transportar. Foi ter com o marido e disse-lhe para me levar, ele ajudou-me a colocar o material da caixa da carrinha bem como, na chegada, a retirá-lo. Ainda, preocupado, foi saber como é que a Elda estava e ficou na conversa comigo por mais uns minutos. Só tenho que lhe agradecer pela atitude.
Entretanto ainda esperei quase uma hora por elas à sombra no exterior das urgências.
Segundo o que me disseram, o atendimento foi irrepreensível, enfermeiros e pessoal auxiliar trataram-nas muito bem, até se preocuparam com o estado nutritivo delas. Ainda comeram sopa e fruta cozida. Neste momento estavam bem melhor do que eu que só tinha uma barrita de cereais no estomago.
A Elda teria que repousar pelo menos umas 24 horas antes de prosseguir a peregrinação. Neste momento surgiu a hipótese de irmos até ao Luso, que se encontrava a uns 30 km´s de distância. Isto porque já tínhamos sido convidados anteriormente para os anos do Francisco, um colega que conheci em 2009 nos Açores. Ele comemoraria o 40º aniversário no dia seguinte.
Uns dias antes tinha-lhe dito que não poderia estar presente na sua festa, pois estaria a caminho de Fátima a pé, mas que mesmo assim lhe telefonaria no dia e, se fosse possível, lhe faríamos uma breve visita.
Como a fome era muita, resolvemos procurar um sítio para comer qualquer coisa. Enquanto esperávamos pela comida, aproveitei e liguei ao Francisco, ele não estava em casa, estava na terra da Ana, sua namorada, algures na zona da Guarda. Expliquei-lhe a situação e ele prontificou-se logo para nos alojar em sua casa. Surgiu então um pequeno problema: - como é que iriamos até lá? Transportes públicos já não havia e de táxi era bastante dispendioso.
Até nisso ele foi prestável, rapidamente arranjou uma forma de dar a volta ao à situação. Telefonou ao primo João Pedro, rapaz que eu já conhecia da minha última ida ao Luso, para nos ir buscar e nos levar até casa, onde a mãe, senhora de um bom coração e de uma simpatia ímpar, de nome Margarida, já se encontrava à nossa espera.
Fomos muito bem tratados, uma boa cama, boa comida, banhos quentes e muita simpatia e disponibilidade por parte dos anfitriões.
Enquanto a Elda foi deitar-se, além de cansada estava ainda sobre o efeito da medicação e a Magui foi descansar, eu e o “Pitaitas” alcunha do primo do Francisco, fomos tratar de arranjar sumos e colocar os espumantes no “frio”.
Ao jantar, a D.ª Margarida brindou-nos com um bacalhau no forno à moda dela que estava delicioso. Comemos todos, eu, a Magui, o “Pitaitas” e a dona da casa, só faltou mesmo a Elda que nem a fome a fez despertar.
No dia seguinte lá chegou ele ao fim da tarde com a Ana e uns quantos amigos, um deles açoriano e picaroto de gema, Sérgio de seu nome que já conhecia.
O jantar foi, como é tradição por estas terras, “leitão à bairrada”, acompanhado com vinho espumante da região.
No final da noite, despedimo-nos e agradecemos a hospitalidade da família Figueiredo.
5ª Etapa
Tondela – Luso
(Esta etapa irá ser realizada posteriormente por motivos de saúde)
Distância/Tempo (aprox.)
41 km´s em 8h30h
Esta jornada de aproximadamente 40 km´s, irá seguir pela Ecovia até S.ta Comba Dão e posteriormente pela Estrada Nacional nº 234 até ao Luso.
O maior obstáculo será mesmo a subida da Serra do Buçaco e subsequente descida até à vila termal do Luso.
Estamos a prever uma jornada com uma duração aproximada de 9 horas.
Como opção, para além dos inúmeros hotéis e residenciais da povoação para todos os gostos e preços, existe o Parque de Campismo, à saída do Luso na estrada para a Pampilhosa.
6ª Etapa
Luso - Condeixa
Distância/Tempo (aprox.)
38 km´s em 9h30h
Esta foi mais uma jornada em que tivemos sorte em não transportar as nossas mochilas. O Francisco ia visitar o Santuário de Fátima com os amigos e levou o nosso material até Condeixa. Mais uma vez fomos bafejados pela sorte.
Pelas 6h30min já nos encontrávamos a tomar o pequeno-almoço na pastelaria “Flôr do Luso”, mesmo no centro da vila.
Seguimos a direcção à Pampilhosa até à Quinta do Valongo, trajeto que nos aconselharam no dia anterior. Nesta povoação, após passar-mos a passagem inferior do caminho de ferro, cortámos à esquerda e 100 metros depois à direita seguindo a placa de Botão. Andámos por estradas secundárias, passamos algumas aldeias até descermos rumo a Souselas. Cruzamos esta povoação de uma ponta à outra, sempre próximos da linha do comboio. A partir deste momento foi só seguir as placas de Coimbra.
Pelas 11h30 já estávamos nós às portas da cidade dos estudantes, bem próximos do IP3, quando resolvemos parar para almoçar. Foi no primeiro restaurante que encontrámos, do lado esquerdo da estrada.
Por coincidência ou não, um dos pratos do dia era “bitoque” e o outro “Cozido à Portuguesa”. Claro que optámos pelo primeiro, pois desde Castro Daire que a Elda falava num bife com ovo à cavalo com batatas fritas. Mais parecia que andava com desejos. Veio mesmo a calhar. Até nos rimos quando olhámos para a ementa fixada na montra e vimos tal coisa!.
Ainda não era hora de almoço, a cozinha não estava a funcionar, mas o senhor ao ver-nos tão cansados e famintos, resolveu tratar disso, mais uma vez, a sorte estava do nosso lado.
Quando arrancámos já passava das 13h00, estava para variar, um calor imenso e a vontade era pouca, mas tínhamos que seguir. Ainda nos encontrávamos a meio da jornada.
O percurso até à Estação B ainda demorou quase uma hora, sobre um sol escaldante.
Começaram-se a ver as primeiras setas azuis as quais seguimos com atenção.
Daqui em diante, seguimos junto ao Bazófias (Mondego) até à ponde de S.ta Clara, necessitámos de mais 45 minutos para fazer este trajeto.
Depois de atravessar a ponte, uns metros à frente, junto à margem, sentámo-nos numa esplanada à sombra, precisávamos de nos abrigar do sol, descansar e ao mesmo tempo hidratar o organismo.
A vista era privilegiada sobre a cidade e o rio que a banhava.
Eram 15h quando nos levantámos e nos pusemos ao caminho rumo até Condeixa. Os km´s que nos esperavam não eram nada fáceis, aqui começamos a sentir falta de espaço e condições para andar. Circulávamos perigosamente próximos de carros e camiões, mas não tínhamos outra alternativa, tivemo-nos de nos contentar. Foram mais de 90 minutos a subir em condições arriscadas. O restante percurso já era mais plano e com algum espaço para circular, com a excepção de uma zona que estava em obras já muito próxima de Condeixa que fez com que andássemos mesmo na via pública. É certo que foram apenas algumas dezenas de metros, mas certamente, foram os mais assustadores.
É incompreensível que, quase com cem anos de peregrinações a Fátima, ainda ninguém tenha salvaguardado os milhares de peregrinos que todos os anos se fazem ao caminho por motivos religiosos, colocando em risco a sua própria vida.
As entidades religiosas do Santuário, os autarcas das inúmeras localidades dos diferentes percursos e os automobilistas menos conscientes, são responsáveis pelas mortes de peregrinos que ocorrem todos os anos nas estradas portuguesas.
Tive a perfeita noção dos riscos que corremos, principalmente nas vias de circulação mais movimentadas. É que nos finais das etapas mais longas e duras em que nós, talvez pela dor sentida e muito também pelo cansaço, perdemos a noção de perigo. Isto é algo que não imaginava.
Pelas 18h30m estávamos nós a chegar aos Bombeiros de Condeixa, mas é de salientar que ainda não tínhamos local para pernoitar.
Aproveitámos e questionámos alguns dos presentes sobre locais onde pudéssemos passar a noite e tomar um banho. Surgiram-nos logo duas opções, nos Escuteiros de Condeixa-a-Velha ou nas instalações do antigo campo de futebol.
A sorte não nos tinha abandonado, estávamos a falar com elementos da direcção dos Bombeiros em que alguns acumulavam com cargos autárquicos e também com profissionais e voluntários da corporação. Todos com quem falámos foram de uma simpatia extraordinária. Para além de nos cederem um espaço condigno para dormir e tomar um banho quente, levaram-nos para o local numa viatura de transporte de pessoal.
Aproveitei e fui até às urgências tratar dos meus pés e ver o que se estava a passar com uma alergia que tinha junto aos tornozelos, enquanto elas ficaram a tomar banho nas instalações onde iriamos pernoitar.
O condutor que nos transportou era enfermeiro voluntário, prontificou-se a levar-me e enquadrar-me no centro de saúde local.
A enfermeira que me atendeu, foi muito profissional e cuidadosa. Lavou-me e desinfetou-me a zona da alergia e os pés. Tratou-me e protegeu-me as mazelas. Bolhas não faltavam. Eram nas plantas dos pés, nos dedos e no calcanhar.
Seguidamente passei para o gabinete da médica de serviço, a qual, me observou a zona da alergia e me receitou medicação para o efeito.
Quando saí, fui ao encontro de um supermercado para adquirir o necessário para o jantar e pequeno-almoço do dia seguinte e lá fui a pé até junto delas. Foram mais de 20 minutos a andar, estava do lado oposto da povoação e bem cansado e dorido.
As instalações que nos foram atribuídas, tinham sinais de pouco uso e de algum abandono, mas o banho fez-nos esquecer de uns quantos pormenores menos agradáveis.
As nossas camas foram mesmo umas marquesas de massagens. Fizeram o seu papel, serviram para nos recompor e relaxar um pouco.
7ª Etapa
Condeixa – Venda Nova, freguesia de Vermoim (Pombal)
Distância/Tempo (aprox.)
39 km´s em 11h
Eram seis da manha quando iniciámos o percurso, já estava claro mas o sol ainda não tinha nascido. Os pés, sentíamo-los bem doridos, era o resultado de seis dias de marcha, na sua maioria por asfalto e a nossa mochila cada vez parecia mais pesada.
Fomos ao encontro da estrada principal. Esperava-nos uma longa marcha, repleta de longas retas, de muito trânsito rodoviário, pela Nacional 2.
Os camiões de transporte de mercadorias eram às centenas, mais parecia a IC19 em hora de ponta. Mais uma vez, não tínhamos grande espaço por onde circular. Passeios quase não existiam, as bermas eram muito desniveladas para os nossos pés sensíveis e o nosso corpo baloiçava ao sabor da deslocação de ar dos camiões. O perigo era constante.
Só duas horas depois é que encontrámos um local para tomarmos um café e nos recompormos.
Neste local, minutos depois chegarmos, após uma breve refeição e tratamentos das mazelas dos pés, vimos pela primeira vez um grande grupo de peregrinos acompanhados por quatro carros de apoio, oriundo de Gaia.
Uma das senhoras desse grupo, porventura a organizadora, aquela que aparentava mais cansaço e bastante dificuldade em andar, enquanto nos observava a tratar dos pés na esplanada exterior, comentou algo do género: - Em que estado vocês vêm…e ainda por cima carregadinhos!
Aqui surgiu o mote para mais uma ajuda na nossa peregrinação. Ela chamou um dos senhores dos carros de apoio e disse-lhes para colocar lá as nossas mochilas. Ele não parecia ter lá muita vontade, mas lá o fez com a ajuda de um outro.
Esta senhora deslocava-se com a ajuda um pau, ia num ritmo muito lento mas era detentora de uma grande fé e persistência. Por incrível que pareça ela transmitiu-nos ânimo para continuarmos.
E mais uma vez, lá foi o nosso material, agora até a uma estação de serviço da BP à entrada em Pombal.
Possivelmente, foi esta etapa que mais custou à Magui, os seus dedos polegares já não cabia nas sapatilhas e apareceram-lhe bolhas entre os dedos dos pés. Até então era a que vinha em melhor estado. Mas ela, não é de se queixar, superou as suas dores, de tal forma, que ninguém diria o que se passaria. Quem melhor a conhece, sabe bem que ela é assim. Preocupa-se mais com as dores e os problemas dos outros que com ela própria.
Quando chegámos, fizemos como os do outro grupo. Deitámo-nos na relva, à sombra, junto a uma palmeira. Descalçámo-nos e levantámos membros inferiores. E lá ficámos uma boa meia hora.
Aos poucos foram chegando todos os elementos do grupo de Gaia. Aproveitei para fazer algumas perguntas sobre o local onde eles iriam ficar e a que horas estavam a programar arrancar no dia seguinte. Teríamos muita sorte se os encontrássemos novamente na última etapa.
Como nós ainda não tínhamos local exato para dormir, despedimo-nos e agradecemos pelo transporte das mochilas e fomos ao encontro de uma cama para passar a noite.
Desviámo-nos em direcção a Pombal com dois objectivos: um pernoitar e o outro, ir ao centro de saúde fazer tratamento aos pés da Magui. É que a dor observava-se nitidamente no seu olhar.
Depois de passarmos pelos bombeiros para saber umas quantas informações, seguimos rumo ao Centro de Saúde.
Enquanto a elas ficaram a ser atendidas eu fui às compras para o almoço.
A Magui tinha as duas unhas dos polegares a abanar e cheias de líquido, uma delas teve mesmo que ser drenada.
Segundo elas, a Magui foi tratada com muita indiferença e muito pouco profissionalismo. A enfermeira recusou-se a retirar-lhe os adesivos dos dedos, pois isso demoraria muito tempo e faria com que ela perdesse, possivelmente a hora de almoço. Segundo a enfermeira, ela tinha que estar com os pés de molho para amolecer os pensos.
Teve que ser a Magui a retirar, à frente dela, os adesivos. Quanto ao tratamento prestado, limitou o material ao mínimo, mais parecia que se tratava de um serviço num pais do terceiro mundo.
Os pensos, foram cortados de um rolo, foram contados e pagos, um a um. Por incrível que pareça, para além do preço da consulta, teve que pagar um euro a mais por cada tira de adesivo. Alguns deles não teriam mais de um cm de espessura e dez de comprimento.
É lamentável!!! Que falta de sensibilidade!!!
Será que estamos a falar do Serviço Nacional de Saúde, para o qual todos contribuímos?! Ou de uma Clinica Privada em que o principal intuito é o lucro?!
Em relação à Elda, o serviço prestado foi bem diferente, parece que teve um pouco mais de sorte. Leva-nos a pensar que afinal não é o Serviço que funciona mal, mas sim, alguns trabalhadores que de profissional tem muito pouco.
Elas acabaram por sair do Centro de Saúde indignadas e desanimadas, a tal ponto que nem quiseram comer o que eu lhes trouxera.
Fomos então ao encontro de um alojamento, questionamos alguns residentes mas a oferta não era muita. Aconselharam-nos inicialmente uma pensão do outro lado da linha do comboio, bastante utilizada por peregrinos. Fomos no encalce dela, mas um taxista preveniu-nos da falta de higiene e de condições. Ele sugeriu-nos uma outra junto ao mercado que era razoável e a bom preço. Voltámos para trás. Ela situava-se junto do Café Esquina.
Enquanto elas ficaram a comer nessa esplanada, eu dirigi-me à tal residencial. Estava quase repleta de Emigrantes e Peregrinos. Mesmo assim a responsável falou-me de um espaço para nós, perguntou se o queria ver, eu achei um pouco estranho tal comportamento. Na realidade não tinha bom aspeto, nem casa de banho, teríamos que recorrer à do corredor e iria-nos custar 47,5 Euros. A minha opinião não era lá muito positiva, desci e comentei o que se tinha passado e sugeri que, nestas condições, seria melhor continuarmos mais um pouco, pois ainda era cedo. Desta forma a etapa para o dia seguinte tornar-se-ia mais curta. Teríamos nesse caso que, encontrar um local que desse para nos encostarmos e dormir um pouco enquanto fosse dia e faríamos os últimos km´s durante a noite.
Eu sei perfeitamente que iria ser duro mas, desta forma, evitaríamos o sol e o calor do dia e usufruíamos do fresco da noite para caminhar. Mas para tal teríamos que nos libertar, mais uma vez, das mochilas.
Elas surpreenderam-me, haveriam concordado com esta minha ideia, um pouco aventureira, admito.
Optámos por deixar as nossas coisas num local seguro e que estivesse aberto as 24h. Surgiu-nos a ideia da PSP.
Dirigimo-nos até lá, fomos atendidos pela comissária e por um Agente Principal que se encontrava junto à porta. Eles foram compreensivos e lá ficaram as nossas coisas, mas não sem antes nos identificar. O Agente, à saída, disse-nos como encontrar novamente o caminho.
Andámos mais uns 3 km´s e deparámo-nos com a primeira placa oficial a dizer Fátima.
Foi necessário fazer 230 km´s para a ver. Daqui em diante, o percurso estava devidamente assinalado.
Uma centena de metros à frente encontrava-se o local onde o grupo de Gaia iria pernoitar, no r/chão era uma churrasqueira e no 1ºandar e anexos alugavam-se quartos a Peregrinos.
Mesmo de frente, protegido com uma lona creme, visualizámos o único lugar onde havia assistência a Peregrinos, em todo o caminho. À passagem, os presentes, estavam a rezar o Terço, o qual interromperam para perguntar se necessitávamos de ajuda. Pude ainda observar, um espaço para assistência médica e um outro para descanso.
Esta foi a estrada que seguimos, ao nosso ritmo, lá continuámos. Esperávamos encontrar um local ideal para descansar. Andámos mais cerca de 8 km´s, mas estava a ficar difícil, estávamos a ficar exaustos e o espaço para descansar que ansiávamos não surgia.
Neste percurso encontrei umas quantas amoras silvestres que me foram minimizando a fome que já sentia.
Enquanto elas comeram em Pombal um hambúrguer e um cachorro com batata frita, eu fui ver e saber o preço do quarto na residencial. Tinha apenas comido uma sandes e um leite achocolatado quando elas estavam no Centro de Saúde.
O nosso objectivo era parar numa aldeia, preferencialmente com café. O máximo que conseguimos foi mesmo, um descampado no meio de um pinhal.
Como a única mochila que veio, foi a minha, tirei a colchoneta que serviu de almofada para os três.
Descansámos, comi mais uma sandes e deitámo-nos.
Pouco tempo depois passaram duas senhoras que nos interpelaram sobre o local onde iriamos pernoitar e se sabíamos de um comércio onde pudessem comer e beber algo.
Nós dissemos-lhe o estávamos a pensar fazer.
Com esta conversa surgiu-nos a oportunidade de, para além de não irmos sozinhos, pernoitar num salão de uma casa ali próxima.
Uma delas telefonou ao Artur, por sinal marido dela e condutor do carro de apoio a questionar se nos poderíamos juntar a eles no espaço que tinham arranjado.
A Artur ficou com a indicação que eramos três e estávamos junto à estrada, enquanto elas continuaram mais algumas centenas de metros.
Cerca de 5 minutos depois lá vinha a carrinha comercial de apoio deles mais o seu condutor Artur. A carrinha não nos era totalmente estranha, já tínhamos passado por ela durante a manhã. Estava devidamente identificada com uns papéis onde se podia ler “Apoio a Peregrinos”, curiosamente fixados por fita isoladora de cor preta.
Mal nos viu, parou e iniciou logo uma conversa connosco. Era uma pessoa extrovertida e simpática. Perguntou logo se tínhamos visto passar por ali duas senhoras e se elas tinham passado há muito tempo.
Isto foi o mote para a derradeira etapa. Na realidade, a ajuda surge quando mais necessitamos dela.
Ele arrancou e foi ao encalce delas dizendo-nos para preparar as nossas coisas que no regresso nos apanharia. E assim o fez, pouco tempo depois, lá estávamos nós a entrar para a carrinha, onde já se encontravam as senhoras.
Ainda fomos à aldeia mais próxima, a uma pastelaria comer algo e conhecermo-nos um pouco.
Todos eles eram boa gente, gente trabalhadora, simples e honesta.
O local de alojamento era bem peculiar, era a parte de baixo de uma casa, recentemente construída, equipada com dois sofás-cama e uma cama de casal.
O wc onde tivemos a oportunidade de tomar banho, tinha ótimas condições, era ali mesmo ao lado, no átrio exterior da casa do Sr. Adelino, que porventura era irmão da proprietária da casa onde iriamos pernoitar.
Este simpático grupo, ao qual nos juntámos era constituído por quatro pessoas: o António, senhor mais velho e experiente nestas peregrinações, a Alda, a Conceição e pelo seu marido Artur. Eram de Canelas (V. N. de Gaia).
Antes do banho, distribuímo-nos, a Alda e a São ficaram com a cama, o António com um dos sofás-cama, a Elada e a Magui com o outro, eu no tapete com a minha colchoneta e o Artur num pequeno colchão que por lá existia.
Imaginem lá sete pessoas, acabadinhas de conhecer a compartilhar um espaço destes, só mesmo num espírito peregrino.
Correu tudo muito bem, as senhoras queriam dormir e os homens iniciaram uma salutar conversa que envolvia bicharada, nomeadamente aranhas, anedotas e algumas histórias vivenciadas pelo António nos 35 anos em que já realizava esta peregrinação.
Elas tiveram que nos pôr um travão, saliento que não foi por não estarem a gostar, pois a cada passo as ouvíamos rir e sussurrar, mas sim porque todos nós precisávamos de descansar.
As pestanas acabaram por se fechar cerca da meia-noite.
Aproveito para salientar que o “hospitaleiro”, o Sr. Adelino, homem com os seus sessenta e muitos anos, era uma figura um tanto ou quanto estranha, ex-emigrante reformado por invalidez, muito desconfiado, apurado sentido para o negócio e muito, mas muito falador. Só nos deixou dormir após lhe entregarmos o donativo.
8ª Etapa
Venda Nova, freguesia de Vermoim (Pombal) - Fátima
Distância/Tempo (aprox.)
31 km´s em 7h
O despertador, ou quem nos despertou, não sei bem quem, fez questão de nos acordar pelas 3h45min., ou seja apenas descansámos quatro horas. Mas ainda bem que assim foi.
Ainda não eram 5 horas e já estávamos a andar, era de noite. Usámos a lanterna até à povoação do Barracão, por coincidência, primeiro local onde poderíamos arranjar algo para comer, mesmo a meio da noite, o que já não era o caso. Tinha, mesmo junto ao caminho diversas máquinas de Vending, uma com café, outra com snack´s e uma outra com bebidas.
Alguns metros depois, existia um café aberto, possivelmente seriam umas 6h30 horas, o dia estava a clarear.
O percurso até aqui não teve grande dificuldade, estava bem identificado e o declive não era muito elevado.
A Conceição era a mais lenta, a dor que transportava dificultava-lhe a movimentação. A Elda como ainda não tinha recuperado totalmente, juntou-se a ela. Foram companheiras de viagem na maior parte do percurso.
Com a ajuda da experiência do António, o caminho sofreu alguns cortes na distância. Encurtámos alguns km´s o que nos deixou mais motivados e confiantes.
Até ao momento, esta etapa a correr bastante bem, a conversa entre todos ajudava.
As referências ao longo desta etapa, não foram muitas. Mas uma delas foi, sem dúvida, a imagem de N.ª S.ª que estava no lugar de Saramago.
Eram 7h45min., estávamos com aproximadamente 3 horas já percorridas e quase 15 km´s, ou seja, estaríamos a chegar ao meio da etapa.
Pelas 9h estávamos nós a tomar o pequeno-almoço em Caranguejeira. Mas antes passámos por uma Igreja localizada e muito bem conservada.
Na zona pintada de rosa velho, existiam dois fontanários, a quadra pintada, em azulejos, num deles, chamou-me à atenção:
AQUI ESTOU, A ÁGUA DA FONTE,
QUE A CEDE VÔS MATARÁ,
DEVEIS DAR GRAÇAS A DEUS,
PELA GRAÇA QUE VÕS DÁ.
Esta povoação era a maior que tínhamos visto desde Pombal, possuía diversos cafés e pastelarias, bancos, lojas comerciais, ou seja, um pouco de tudo. Mais parecia que tínhamos chegado à civilização.
Por aqui, a conviver e a descansar, estivemos até às 9h30m.
Faltam apenas 10 km´s para o Santuário, mas antes tivemos um derradeiro obstáculo, a subida até Santa Catarina do Monte.
Não foi nada fácil, esta era longa e com declive considerável. Apesar de sabermos que estávamos já muito próximos, o que nesta subida se reflectia era o esforço físico e desgaste emocional dos últimos sete dias, acompanhados com as dores acumuladas e todos os pensamentos inerentes ao motivo que nos levou a realizar esta Peregrinação.
Certo é que viemos acompanhar a Elda, pelo menos inicialmente. Mas na realidade e com o passar do tempo, cada vez mais assumimos esta Peregrinação como nossa também.
O Sol, cada vez mais quente, o grau de dificuldade a aumentar e, S.ta Catarina do Monte nunca mais se avistava.
Desde a última paragem e do momento que iniciámos a subida, cada um impôs o seu ritmos à sua maneira. A Elda e a Alda estavam mais para a frente, eu e o António andávamos pelo meio e lá atrás, vinha a São e a Magui.
Não estava a ser nada fácil para a companheira de viagem da Magui, notava-se bem a dificuldade que ela estava a ter para se locomover, mas segundo se diz, a Fé arrasta montanhas. E isso foi bem patente aqui.
Quando nos encontrávamos, sensivelmente a meio, eu e o António resolvemos esperar por elas, não só para saber como elas vinham mas também para as abastecer de água, principalmente à Magui que não levava nenhuma garrafa.
Ao avistarem a igreja de S.ta Catarina, o grupo da frente parou e ficou à nossa espera. Alguns minutos depois já estávamos, novamente, todos juntos. Uns metros à frente, encontrava-se um fontanário, bem útil em situações destas, possivelmente não seria nada mau se existisse um outro nesta derradeira fase do caminho.
Acabara-se a subida, mais um obstáculo superado!
A igreja destacava-se pela sua arquitectura e construção em calcário, para além dos sinos existentes na torre cimeira, também existiam outros no átrio. O espaço estava murado e na entrada principal foi construída uma arcada bem imponente.
A área envolvente a esta igreja, possui wc´s públicos, áreas de descanso e locais de abastecimento de água.
Apesar de não ter tido a oportunidade de visualizar o Santuário de Fátima desde o átrio desta igreja, fiquei a saber, pelo António, que este era o único local com essa possibilidade, o que torna S.ta Catarina do Monte, um sítio mágico que nos faz reflectir e fazer uma retrospectiva de tudo que se passou até aqui.
Agora só nos faltava chegar mesmo ao objectivo, ao Santuário, à Capelinha das Aparições, junto à imagem de N.ª S.ª de Fátima.
Mal entramos na Estrada que liga Fátima a Leiria, fizemos uma última pausa para nos recompormos e comermos. O carro de apoio do grupo com quem vínhamos, juntou-se a nós. Partilhámos alguma comida que ainda levávamos.
Daqui para a frente, era apenas uma grande reta, mais parecia não ter fim.
A meio dela, fomos surpreendidos pela Celma e pelo Francisco, acompanhados pelo Gustavo e pelo pai.
Depois de os cumprimentarmos e da Elda e da Magui serem presenteadas por uma pequena imagem de N.ª S.ª de Fátima, a Celma juntou-se a nós e seguiu connosco, a pé, até ao Santuário.
Esta etapa foi pautada por um espírito de entreajuda, partilha e camaradagem, o que fez com que todos nós conseguíssemos atingir o objectivo que nos tínhamos proposto inicialmente.
À chegada, dirigi-me logo ao local de informações para perguntar onde se poderia tomar um duche. Aproveitei também para saber se haveria um local onde os peregrinos pudessem dormir e, por fim, carimbei as nossas credencias.
Prontamente colocaram-me um mapa na mão com as localizações e caminho indicado para os balneários e a residência. Disseram-me que, tanto o banho como o alojamento se tratava de um serviço oferecido pelo Santuário e disponível para os Peregrinos.
Este tipo de hospitalidade deveria ser promovido pelos caminhos principais de acesso a Fátima, pelo menos, com os serviços mínimos, ou seja, espaços para pernoitar e tomar banho, nem que para tal tivéssemos que pagar um valor simbólico. O equivalente ao que se passa nos Caminhos de Santiago.
Os Peregrinos de Fátima sentem-se desprotegidos, com falta de segurança nas vias públicas, sem trajectos específicos e ausência de sinalética de orientação.
Dentro de cinco anos comemora-se o centenário das Aparições, espero que até lá haja condições condignas para todos os que pretendam fazer a Peregrinação a Fátima,
Esta nossa Peregrinação terminou em oração e reflexão na Capelinha das Aparições.
Quando nos despedimos dos companheiros, que nos acompanharam desde o final da etapa anterior, na Capelinha, foi um momento sentido, profundo e emocionante. O que reflecte a ligação espiritual e de amizade que foi sendo construída ao longo do tempo que passámos juntos.
Agradecemos o apoio e companhia que nos proporcionaram, ficando de lhe fazer chegar as fotos que tirámos nesta última etapa.
Entretanto, os meus pais, apareceram com o almoço que me fez lembrar as visitas que fazia na minha infância a este local sagrado.
Utilizámos as infra estruturas que o Santuário disponibiliza aos visitantes para satisfazer e restabelecer as nossas energias em convívio familiar.
E assim terminou a nossa longa, dura e sentida peregrinação a Fátima em que todos os momentos de descanso eram também de reflexão.
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